quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Como o dinheiro público anda a financiar call centers de empresas privadas



Já antes tínhamos chamado a atenção para a forma como as autarquias estão a captar a instalação de call centers nos municípios. Multiplicam-se os benefícios dados a empresas privadas que incluem, por exemplo, a cedência de instalações, o pagamento de rendas e até de materiais de escritório e de limpeza. Esta é uma área que deve merecer maior escrutínio por parte dos cidadãos de vários pontos do país ou não fossem os call centers locais onde abunda o trabalho precário e mal pago. 
Tomemos o exemplo de Viseu, nomeadamente para a instalação do contact center da Altice. Na verdade a operação tem como intermediária a Randstad, que assume a gestão do contact center para a Altice. No Protocolo de Colaboração entre a autarquia e a Randstad, com o prazo de cinco anos,  e no Contrato Promessa de Subarrendamento para Fins Não Comerciais surgem vários dados curiosos:

  • Os processos de recrutamento e selecção da Randstad decorrem em instalações cedidas ou arranjadas gratuitamente pela autarquia;
  • A autarquia, em colaboração com outras entidades, incluindo a Randstad, indica os “professores/formadores de francês, dependendo a mesma da encomenda de serviço e prazos que venham a ser comunicados à Randstad pelo seu cliente Altice”. Se é a autarquia que “indica” os formadores, tendo em conta os interesses da Randstad, quem é que os remunera? O acordo é omisso em relação a isso.
  • Autarquia paga renda de 1.800 euros por mês à Universidade Católica de Viseu, uma vez que é aí que se encontra instalado o contact center.
  • De acordo com o Contrato de Subarrendamento, as despesas de água, luz, gás, segurança, manutenção e limpeza diária das instalações ficam a cargo da Randstad. No entanto, a autarquia já publicou no Base um ajuste directo no valor de 69.798,12 euros que mostra que o financiamento vai além do estabelecido. Para mobiliário de escritório, acessórios e produtos de limpeza do call center, o município já pagou 69.798,12 euros.

6 comentários:

  1. O que é triste é que se for um cidadão com vontade de inovar e dedicar a sua sorte como empreendedor e criar emprego, muito provavelmente não encontra o mesmo tipo de apoios. De resto, se queremos captar investimento, dinamizar o mercado de trabalho, estas são algumas das soluções. Se são as melhores? é preciso fazer contas, porque não nos podemos esquecer que estamos a pagar para ter cá as empresas. Quanto é que essas empresas deixam cá ? (salarios, impostos).

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  2. Já passaram 2 anos que denunciei o contrato feito pela Reditus em Lisboa, que presta serviços a empresas de grande nome e a instituições bancárias como a CGD e onde paga um ordenado sem passar recibos de remuneração, onde o trabalhador não tem seguro. Isto fora das instalações da mesma! Se for dentro das suas instalações, o trabalhador tem de possuir recibos verdes e obrigado a obter um seguro de responsabilidade cívil... Ainda por cima! Esta Reditus tem as costas tão quentes, que ninguém lhes toca. Como é que isto é possível???

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  3. AUTARQUIAS NECESSITAM DE SEREM RESPONSABILIZADOS

    Urge com urgência que haja uma intervenção massiva da parte do cidadão exigindo responsabilidades às autarquias por estarem a financiarem interesses de actores económicos privados, tal como a Altice e Randstad através dos call center.
    O Cidadão não deve temer nenhuma autarquia e sim encostá-la contra a responsabilidade de anular compromissos ilegítimos, tal como, a Autarquia pagar renda de 1.800 euros por mês à Universidade Católica de Viseu, local onde se encontra o call center.

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  4. Só hoje é que recebi a notificação dos comentários, pena porque são conversas destas que é interessante dar seguimento.

    @Rui Saraiva, se ainda segures este post, por curiosidade denunciaste a quem? (mais para cultura geral de quais os procedimentos/ferramentas que os cidadãos têm para contribuirem para a sociedade, apesar de como todos devemos saber/sentir, muitas vezes vemos o nosso esforço ser insignificante, e as nossas lutas diárias consomem-nos muita da energia/tempo/vontade para contribuir para uma sociedade melhor.

    @Evenlyn, concordo plenamente, apesar da realidade não ser essa e Um cidadão comum, a menos que faça disso vida, colocando de lado e sacrificando a sua vida pessoal, pouco ou nada pode fazer contra autarquias.

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  5. Sinceramente não vejo mal nenhum nisto! Acho que aqui o v/site está mal. As autarquias são livres de captar investimento, e de usar os mecanismos que entenderem como tais, obviamente dentro do quadro legal. Tivessem as autarquias de Beja ou outras no Alentejo o mesmo princípio, e não teríamos mais de metade dessas populações a trabalhar para o estado, ou seja, para as autarquias. Nas economias de mercado, são as empresas que pagam impostos e dão emprego remunerado, não é o estado. Podemos naturalmente evocar questões éticas, mas a concorrência fiscal é a prática em muitos países, mesmo dentro da UE. Dar benefícios fiscais, como muitos países fazem, também são benefícios financeiro.
    Para mim aliás, é claro que a desertificação do país, a ser combatida seriamente, passa exatamente por isso, por benefícios fiscais às empresas, para se instalarem nesses distritos do interior.

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    1. João, julgo que não estás em desacordo com o autor do post.

      "Esta é uma área que deve merecer maior escrutínio por parte dos cidadãos de vários pontos do país ou não fossem os call centers locais onde abunda o trabalho precário e mal pago. "

      Para mim o grande problema não é estes apoios existirem, como me parece que também estás de acordo, é sim a falta de transparência, falta de informação e muitas vezes estes acordos são apenas conseguidos sem haver concursos públicos, ou os que há é para inglês ver.

      Falta-nos uma uma sociedade civil forte, informação de qualidade, poder crítico. Até lá os governos ficam reféns dos próprios aparelhos políticos que os ajudaram a colocar nos poleiros, dos lobis, dos interesses.

      Isto só se combate com a educação de qualidade, que não me parece que haja interesse nisso. Formar cidadãos para o futuro.

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