sexta-feira, 10 de junho de 2011

Elefantes Brancos (5): A herança do Euro 2004


I
O Euro 2004 teve lugar entre 12 de Junho e 4 de Julho. A distribuição de jogos pelo país obrigou à renovação e construção de infra-estrutura, acessibilidades e equipamentos desportivos por todo o país. Os estádios renovados ou reconstruídos situam-se em Lisboa, Porto, Algarve, Guimarães, Braga, Leiria, Coimbra e Aveiro.
Uma auditoria do Tribunal de contas (TC), logo em 2005, apontava custos concretos para os 23 dias do evento. Mais de mil milhões de euros em investimento público geral, com um índice de derrapagem de 13,3% só referente às acessibilidades, e encargos assumidos para as próximas décadas. Na proporção da comparticipação pública 61% foi concedido a promotores privados (clubes) e 39% para os promotores públicos (autarquias, turismo de Portugal, etc.).
Citando casos isolados, o top das derrapagens vai para o Estádio Municipal de Braga. Obra premiada (Prémio Secil 2004) e arquitecto premiado (Prémio Pritzker 2011) o desvio médio do custo previsto foi de 360%, numa média geral de derrapagem de 230%.


II
Se os efeitos a curto prazo foram os referidos, a longo prazo a manutenção dos equipamentos assume o seu peso. O sobredimensionamento dos estádios perante o uso futuro fica à cabeça, pela taxa de utilização de 20 a 30% dos lugares construídos.
Caso mais crítico é situação dos estádios municipais, que dependem das autarquias para a sua manutenção. As empresas municipais criadas para a gestão dos estádios acumulam prejuízos anuais (4 milhões em Leiria ou 1,7 milhões para Loulé/Faro). Em Braga o empréstimo que pagou a obra custará 10% do orçamento municipal nos próximos 20 anos. Em Leiria os 4 milhões anuais de despesa resumem o evento: 30.000 lugares num estádio com uma ocupação anual de 1000 espectadores (2006).


III
Derrapagens, euforia, endividamento, manutenção, custos, despesa, turismo, auditoria. A informação escrita sobre o Campeonato Europeu de Futebol - Euro 2004 inclui, entre outras, a maioria destas palavras. O consenso reúne-se quanto a um paradigma de má despesa pública. Milhões de euros, milhares de cachecóis, 10 estádios e 7 anos depois, os resultados ainda são difíceis de sintetizar. 43,5 milhões de euros de despesa por cada dia de campeonato pode ser um resumo.

Manuel Rodrigues

Fontes:
DN Diário de Notícias 20.12.2005, Agência Lusa via Fórum Bolso no Bolso 20.12.2005 e Expresso, 29.12.2006

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