Por
Marcelo Moriconi, investigador principal da TIAC
Marcelo Moriconi, investigador principal da TIAC
Bárbara Rosa,
blogue Má Despesa Pública e membro da TIAC
O Santo António
chegou com presentes para aqueles que vivem a preocupação e agem pela
transparência e integridade na gestão pública. Além de sardinhas e manjericos,
cervejas (demais) e bailaricos, o santo trouxe uma promessa do ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel
Poiares Maduro: os
relatórios da Inspecção-Geral de Finanças (IGF) feitos às autarquias vão
continuar a ser públicos, ao contrário do que definiu o ministro das Finanças,
Vítor Gaspar. Estas palavras merecem um brinde (mais um). Congratulamos o Parlamento e o
ministro pela decisão acertada.
Ora
bem, promessas e palavras não são acções, e aí estão o amor e o matrimónio para
verificar a diferença de conceitos. Mas as palavras foram ditas, e na esperança
de resoluções concretas, o Governo merece, para já, uma palmada nas costas e
uma carta de credibilidade (só uma).
A
Transparência e Integridade Associação Cívica (TIAC) e o blogue Má Despesa
Pública (MDP) têm questionado a política restritiva de informação pública e
criticaram com dureza a decisão de não permitir a consulta pública dos relatórios de inspecção às autarquias, acompanhada da
pretensão de divulgar um resumo de não mais de 30 linhas. Isto aconteceu por
decisão do ministro das Finanças, em consequência da integração da
Inspecção-Geral da Administração Local (IGAL) na IGF, anunciada em Setembro de
2011. Desde 1995 que o acesso aos
relatórios (completos) das acções de inspecção às câmaras municipais, juntas de
freguesia e empresas municipais era livre para qualquer cidadão.
Agora, seguindo uma
recomendação unânime do Parlamento, o ministro Poiares Maduro garantiu que os
relatórios voltariam a estar disponíveis para consulta popular. Como se vê, foi
necessária uma recomendação parlamentar para que o governo cumprisse a lei de
acesso à informação da gestão pública (municipal), o que não é mais do que uma
obrigação democrática. A TIAC sempre defendeu que o acesso à informação faz
parte da Declaração dos Direitos Humanos e implica um esforço para tornar as
actividades governamentais mais transparentes e credibilizar a política
institucional. O MDP tem mostrado que está em causa um direito constitucional
intimamente relacionado com o poder-dever de participação dos cidadãos na
gestão pública, tendo em vista contribuir para aperfeiçoar a nossa democracia.
O ministro
quer «uma diferenciação clara» entre «as autarquias com boas e más contas»,
promovendo uma maior transparência. Nesta altura, também valem umas palavrinhas
para os cidadãos, pois nem sempre a coisa é tão simples como o ministro refere.
Apesar da transparência governativa ser um valor fundamental da boa governação,
muitos cidadãos não estão realmente preocupados com ela. Nem com a corrupção.
Boas contas não significam necessariamente menos corrupção. Muitos autarcas
“corruptos” sabem fazer as contas para que batam certas… E o povo muitas vezes
não faz da transparência e da clareza de contas a sua principal variável da boa
gestão pública.
No entanto, este é o caminho certo – ainda bem que
mudaram de ministro. Mas tem de ser um caminho de acções, e não de simples
palavras. Entretanto, pode ser que lá pelo S. João a IGF responda à TIAC e ao
Má Despesa Pública, que há meses pediram acesso aos relatórios de inspecção às
autarquias. Continuamos à espera que a lei se cumpra.
Este texto também está publicado no blogue Às Claras da responsabilidade da TIAC.
Parabens MDP por cooperar sem espirito de capela. Cada vez merecem mais uma visita atenta regular. Blogs como As Claras, Madespesapublica, tretas.org ajudam estes empedernidos eleitores a duvidar fundamentadamente dos seus deuses com pés de barro.
ResponderEliminardeixem de acreditar no painatal e informem-se com factos