As nomeações para a cúpula da
administração pública em Portugal são influenciadas por
interesses partidários para recompensar serviços prestados ao
partido do poder. Esta é uma das principais conclusões do
doutoramento intitulado “Novos dilemas, velhas soluções?
Patronagem e Governos Partidários” e realizado no Departamento de
Ciências Sociais, Políticas e do Território (DCSPT) da
Universidade de Aveiro (UA). O trabalho foi coordenado pela
investigadora Patrícia Silva (na foto). Fique a par das principais
conclusões:
- Amostra de 11 mil nomeações para a administração pública realizadas entre 1995 e 2009. “Os resultados sugerem que, embora as nomeações possam ser usadas para efeitos de controlo de políticas públicas, tende a persistir a utilização das nomeações como uma forma de recompensa por serviços prestados anteriormente ou em antecipação aos mesmos, esperando-se que a filiação partidária ou o relacionamento pessoal com o ministro sejam centrais neste processo”, explica Patrícia Silva.
- Recompensa e controlo. “As nomeações podem ser motivadas por questões de recompensa e de controlo”, refere Patrícia Silva. Aponta a investigadora que “quando os partidos vencem eleições, os seus membros esperam ver a sua lealdade ao partido ser recompensada”. Por isso, “estas nomeações combinam a vontade do nomeado e a necessidade do partido de assegurar o controlo de áreas sectoriais cruciais para o Governo, corroborando a coexistência de dinâmicas de recompensa e de controlo”.
- Nomeações dependentes do ciclo governativo. “Os resultados [do trabalho] tendem a sugerir que as motivações de recompensa surgem sobretudo no final dos mandatos e na antecipação de eleições, apontando para a existência de objetivos de captação de votos e de vantagens eleitorais”, aponta Patrícia Silva. Por oposição, o controlo de políticas públicas pode ser identificado no início do mandato.
- O papel dos partidos de oposição. “Quando o principal partido da oposição é mais crítico, tende a verificar-se uma redução das nomeações nos cargos de direcção superior, que são mais visíveis, e o seu impacto reduz-se gradualmente à medida que analisamos níveis hierárquicos mais baixos – níveis intermédios da administração pública – ou menos visíveis, como no caso das nomeações para os serviços periféricos”, aponta o estudo.
- Processo corrói democracia. O estudo conclui que a utilização das nomeações pode também gerar efeitos adversos na relação entre cidadãos e classe política, “na medida em que estas são percecionadas como mecanismos de colonização partidária da administração pública”. A perceção que o eleitorado tem da utilização da patronagem, aponta a tese de Doutoramento, “pode aumentar o desinteresse e o distanciamento dos cidadãos em relação aos partidos políticos e, ao mesmo tempo, reduz o potencial dos partidos para a mobilização do eleitorado, o que pode ser uma ameaça para a qualidade da democracia, na medida em que esta depende da participação dos cidadãos”.
a tese espero que tambem aponte possiveis alterações;serão essas se bem ponderadas que poderão dar o impulso para deixar-mos de ser terceiromundistas e saloios. Que tal termos gestores profissionais a gerir a maioria dos departamentos e as decisões politicas (sem salarios) ficarão então a cargo dos representantes partidários que quizermos nomear. Porque se não alterrarmos as regras como explicar as hostes de incondicionais que precisamos deles para andar a encher comicios e colar cartaz se depois nomeamos outros para os "tachos". Se lhe fizessem isso a si o que diria? no entanto não foi há muito tempo que os deputados não ganhavam salário - e segundo me parece visto de fora, so votavam como o chefe do partido queria, tal como hoje,só que por muito menos dinheiro do erário publico dispendido.
ResponderEliminarEsta democracia é uma fraude, um logro, uma farsa, um embuste. Por muitas patifarias que um qualquer governo faça, na legislatura seguinte certos patifes encontram sempre refúgio no Parlamento. Isso deve-se a um vergonhoso e antidemocrático sistema eleitoral. Vota-se em logotipos partidários em que o voto é uma espécie de cheque ao portador a favor de partidos que nomeiam quem querem, segundo critérios que nada devem ao mérito. E todos desejam manter esse "status quo". Por isso estamos entregues a esses medíocres e imberbes políticos de carreira. E é este "inconseguimento" democrático que nos gera um sentimento "frustracional", ao permitir governos "softpower", isto é, fracos perante a oligarquia de interesses instalada, vulgo clientelas. Fala-se muito em reformas estruturais incluindo a do Estado, mas a mais urgente é a do sistema eleitoral. Sem esta, as outras jamais avançarão. Enquanto nada mudar, terão sempre a minha abstenção. Nestas europeias, uma abstenção superior a 60% talvez faça com que os partidos tirem a "cabeça da areia" e ganhem, finalmente, vergonha.
ResponderEliminarSeria importante que a tese fosse disponibilizada publicamente.
ResponderEliminarA tese encontra-se aqui, mas tens que pedir acesso à autora
ResponderEliminarhttp://ria.ua.pt/handle/10773/11312