Daniel Innerarity defende, citando Aristóteles, que a
nossa condição política é algo que nos permite fazer um grande número de coisas
que seriam impossíveis se vivêssemos como os deuses ou os animais. E a política
não é sinónimo de partidos pois vai muito além deles, sendo - e passe o singelo
resumo- a ciência que organiza e administra as instituições. Nas palavras do
filósofo e politólogo basco, a democracia institucionalizada é aquela que
transforma a abstracção "povo" numa figura visível, que se
materializa e torna-se operativa e cuja vontade cabe verificar. Às instituições
cabe reconhecer a pluralidade da sociedade [o "povo"] e proteger os
cidadãos – elas existem para garantir os direitos constitucionais. Uma
democracia precisa de procedimentos, regras e representação para se defender da
irracionalidade. Essa representação, a discussão pública e os procedimentos
institucionais servem para fixar os contornos da tal realidade plural denominada
"povo". A democracia, enquanto sistema que melhor reflecte as
preferências individuais, é de - e para- todos e eu sinto algum desconforto ao
ver tanta boa gente dedicada à promoção/venda de ideias anti-política e que
apenas servem para atirar os portugueses para o banco dos suplentes do jogo que
é a democracia. Este jogo democrático, do qual somos todos titulares, o espaço público, convoca todos os
cidadãos e ninguém deve viver à margem dele. É certo que eu não oiço um único
cidadão a dizer que não quer saber deste país e escuto demasiados a afirmarem
que nada querem com os partidos e descrentes nas instituições. Curiosamente, a
maturidade democrática que não se reconhece aos partidos manifesta-se na
sociedade e sob diversas formas – nos espaços físico e virtual. Nós, os
cidadãos, estamos melhor informados e, por isso, somos menos tolerantes à má governação
e queremos saber mais sobre a vida do Estado; desconfiamos das instituições
porque a crise económica aprofundou a percepção de que elas não cumpriram o seu
papel democrático - a construção de uma sociedade mais justa e igual. Os governos
defraudaram os cidadãos e os partidos mostraram-se incapazes de cumprir as
expectativas de representação, orientação e configuração da vontade política
que sobre eles recaem e que justificam a sua existência. Precisamos de outra
política.
A crise política em que vivemos não é mais do que a
morte decretada da forma de fazer política que reinou nas últimas décadas, mas
não significa o fim da política. Precisamos da política para articular, valorar
e tornar compatíveis as múltiplas aspirações da sociedade. Sem programas
políticos completos não existe construção social, pois esta não se resume à
soma das – nem sempre- legítimas reivindicações dos diversos colectivos
sociais. E que não se perca tempo a defender a democracia directa e a fantasia
da “autodeterminação democrática”, o fim dos partidos ou qualquer outra ideia
de «trincheira apolítica». Ao invés, urge aprofundar a nossa democracia e a
consciência da inevitabilidade de ser governado por outros. No sistema de
democracia representativa, os cidadãos não governam mas têm o poder-dever de
participar na gestão e orientação do país e tal só é possível se ampliarmos o
espaço público – e a transparência do sistema político é um precioso
instrumento para isso.
Já que não temos eleições todos os dias (felizmente),
reivindiquemos melhor representação, mais transparência na governação, maior
controlo, renovação de quem dirige, em suma, reivindiquemos uma melhor democracia
mas não abandonemos a lógica política, sob pena de envenenarmos (ainda mais) o
sistema político e assim darmos espaço aos extremos, aos “tea parties” da esquerda e da direita, como ensina Innerarity. Deixemos
de ser um fracasso colectivo e reivindiquemos todos numa lógica política, por
favor.
Bárbara Rosa, co-autora do MDP
Sim concordo,mas adianto que tem pouca eficiencia o combate de apontar/denuciar erros,incluindo os casos de ma gestão/corrupção pela ligação estreita que se estabelece entre eleitos politicos e orgaos de gestão profissional . Veja-se a dança das cadeiras desde supremo, MP, acessores, camaras ... e onde está a eficiencia dos abaixo a troika e alternativas politicas reais quenão seja os pequeninos a copiar os grandes e ambicionar alguns tachos tambem?
ResponderEliminarpara quando separar a gestão politica da profissional ? e acabar com benesses para cargos politicos? sim. claro que quem lá está instalado é preciso ser muito serio para aceitar isso. Ma andar a clamar aos peixes,mesmo que muito transparentemente e ineficiente nao abona
Para todos estes democratas o tarrafal era pouco...
ResponderEliminarWinston Churchill disse que "A Democracia é o pior de todos os regimes com excepção de todos os outros." Só que há Democracias e há... democracias! E infelizmente a nossa democracia, quando comparada com uma qualquer ditadura, tem-se limitado à escolha de quem queremos para nos roubar. O Povo costuma dizer que na prática só mudam as moscas. Chegamos a um ponto em que a motivação para votar não é tanto a eleição de um novo Governo mas mais a expulsão do que lá está! São as vicissitudes de uma democracia... pobre.
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