sexta-feira, 13 de maio de 2016

Universidade do Porto selecciona candidato com notas negativas!




Mais uma vez, recebemos uma denúncia que merece ser partilhada e que reflecte forma muito duvidosa de selecção de um candidato para uma Bolsa Gestão Ciência Tecnologia (BGCT) por parte da Universidade do Porto (UP). Um dos candidatos preteridos, licenciado em Matemática (ramo educacional) pela Universidade do Porto, Mestre em Matemática Pura pela Universidade de Coimbra e Doutor em História das Ciências pela Universidade de Lisboa, enviou-nos o seguinte relato: 
" (...) venho por este meio apresentar o ocorrido durante um concurso para uma Bolsa BCGT e que, a meu ver, apresentou diversas irregularidades (e que culminou com a selecção de um candidato que teve nota negativa no CV (quer academicamente quer na parte profissional) bem como nota negativa na carta de motivação…; apenas a entrevista (as duas que foram feitas) foi excelente, quase a roçar a perfeição) e que passo a descrever:
- No dia 22 de maio candidatei-me a uma Bolsa BGCT para o Museu da UP (o edital segue em anexo). A avaliação era de 40% para o currículo, 20% para a carta de motivação e 40% para a entrevista (o mesmo peso do CV, o que me parece extraordinário!).
- No dia 29 de julho, fui convocado, por email, para entrevista a realizar no dia 7 de Agosto (não foi dada qualquer indicação sobre a análise documental nem sobre os temas/assuntos da entrevista);
- No dia 7 de Agosto realizou-se a entrevista (o Professor José Luís santos, membro do júri esteve ausente)
- No dia 21 de agosto, recebi a seriação final dos resultados (datados de 19 de agosto, assinados pelo presidente do júri; ver anexo seriação final agosto), enviada por email pela Dra. Cidália Duarte, que me deixaram muito surpreendido (...). 
Em resumo, quatro pessoas estiveram muitíssimo mal na entrevista, uma teve 50% e apenas uma esteve francamente bem, o que não deixa de ser surpreendente dado que estamos a falar de seis candidatos com grau de Doutor.
Mais tarde tive acesso às atas de julho e agosto (seguem assinadas apenas pelo presidente do júri, ver anexo).
- A 25 de agosto, eu enviei, por email, algumas questões à Dra. Cidália Duarte deixando em aberto a possibilidade de pedir audiência prévia, nos seguintes termos: “Aproveito também este email para solicitar informações de qual a via que deve seguir um possível pedido de audiência prévia”. Esta minha comunicação para a Dra. Cidália Duarte e para a Divisão de Recrutamento de Recursos Humanos da UP não está indicada em nenhum ponto do processo, o que me parece grave pois, tanto quanto se pode perceber, foi esta minha comunicação que desencadeou os desenvolvimentos que se seguiram, em particular, a realização de uma nova entrevista a todos os candidatos e uma nova seriação que me deixou ainda pior classificado no final.
- A 27 de agosto, recebi o seguinte email da Dra. Cidália Duarte: «Na verdade, a comunicação que recebeu, enviada por mim, não é a comunicação oficial cuja data conta para a fase de Audiência Prévia. Essa comunicação de resultados será efetuada pela Divisão de Recrutamento de Recursos Humanos (em cc nesta mensagem). No momento em que receber essa comunicação oficial dos Serviços, começará a contagem dos dias previstos para Audiência Prévia (julgo que dez dias úteis) e deverá depois contactar diretamente os Recursos Humanos que solicitará informação adicional ao júri de avaliação do concurso, conforme as questões levantadas por si.»
Esta afirmação fez-se acompanhar de um longo período sem qualquer novo contacto (mais de um mês).
Só muito mais tarde tive acesso ao despacho do Exmo. Senhor Reitor de 14 de setembro a mandar repetir todo o processo (nova análise documental e novas entrevistas, ver anexo). Os candidatos não tiveram conhecimento deste despacho na altura.
- Apenas a 6 de outubro recebo um novo email, desta vez da Dra. Marta Pires Miguel, nos seguintes termos:
“Na sequência da candidatura apresentada no âmbito do processo identificado em epígrafe, vimos convocar V. Exa. para uma entrevista profissional a realizar no dia 8 de outubro pelas 14h30, na sala 3.02, no 3º piso do Edifício Histórico da Universidade do Porto (Praça dos Leões). Solicita-se a confirmação da sua presença via email e informa-se que a não comparência na data marcada, qualquer que seja o motivo, será sempre considerada como desistência do processo.”
Ou seja, os candidatos foram chamados a nova entrevista (apenas com dois dias de antecedência) sem qualquer justificação do que tinha acontecido previamente.
- A 8 de outubro realizaram-se novas entrevistas a todos os candidatos. Nesta altura fui informado que se tratava da continuação (palavras do Prof. Doutor José Luís Santos) ou da conclusão (palavras do Prof. Doutor Nuno Ferrand de Almeida) da de 7 de agosto, o que me parece não estar concordante com o despacho do Exmo. Senhor Reitor da Universidade do Porto datado de 14 de setembro (este despacho não foi cumprido integralmente, até porque se indicava a realização de uma audiência prévia antes das entrevistas que não se veio a realizar).
- A 14 de outubro, recebi por via postal (ver anexo ata 8 de outubro + seriação final), os resultados finais da entrevista e de todo o processo. Pela primeira vez sou informado dos critérios que foram selecionados para a entrevista (embora sem pesos e sem grelha de avaliação), mas nada foi indicado em relação aos acontecimentos de agosto (entrevista e seriação), nem qualquer justificação para a diferença de resultados entre uma seriação e outra. No meu caso pessoal, passei de segundo classificado na avaliação total, para quarto na nova seriação.
Mais tarde tive acesso à grelha de avaliação da análise documental (ver excel anexo), bem como ao restante processo (CVs e cartas de motivação). Da análise que fiz, salienta-se o seguinte:
- Fui o único candidato a ter análise documental positiva (35 em 60), muita acima dos restantes candidatos (23, 17, 16; não houve justificação para terem chamado seis candidatos para a entrevista). Era o único doutorado em História das Ciências (e a minha tese foi sobre a antecessora da UP), o que me parece ser importante para o que era comunicado no edital.
- Mais surpreendente ainda é o facto de o candidato selecionado ter tido notas negativas na formação académica (8 pontos em 20), no trabalho (5 em 20) e na carta de motivação (4 em 20); apenas a entrevista foi muito boa (35 em 40). De facto, 2/3 da pontuação deste candidato veio apenas da entrevista.
- Depois de ter feito intenção de pedir audiência prévia fui o único a baixar a classificação final (de 2.º para 4.º).
Pedi entretanto audiência prévia (ver anexo onde tento contestar vários pontos da avaliação) que foi recusada (ver resposta igualmente em anexo; só neste ponto é apresentado uma grelha de avaliação das entrevistas... e o júri afirma que não tinha de conhecer a diferença entre continuar/concluir e repetir as entrevistas...).
Espero ter sido claro em toda a descrição que fiz e ponho-me à disposição para qualquer esclarecimento que seja necessário.
Uma última nota para o facto de me parecer que todo o sistema de bolsas da FCT, sendo um concurso público, terá de ser revisto, quer em termos de critérios admissíveis quer em termos de transparência. Algumas sugestões que deixo são, por exemplo:
- O CV de um candidato não possa valer menos de 60% e tenha carácter eliminatório quando o CV não cumpra pelo menos metade dessa pontuação;
- As entrevistas não possam valer mais de 30% do total;
- Os documentos do tipo carta de motivação deverão ser incluídas na percentagem destinada à entrevista."

2 comentários:

  1. A oligarquia do costume.

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  2. ...seja o motivo, será sempre considerada como desistência do processo.”
    Quer dizer, se por infeliz coincidência falecer subitamente um familiar em primeiro grau do candidato, ele/a só tem duas opções: ou vai à entrevista emocionalmente de "rastos", ou é excluído do concurso.


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