Hoje é apresentado publicamente o Índice de Transparência Municipal (ITM), coordenado pela TIAC- Transparência e Integridade, Associação Cívica, seguido de um debate sobre “O uso das TIC na governação local: realidades e desafios”, com a participação da co-autora deste blog, Bárbara Rosa (programa infra). Para melhor compreensão da natureza e importância do ITM, o Má Despesa partilha com os leitores o texto de Luís de Sousa, presidente da TIAC e de Vítor Teixeira, investigador principal do ITM:
"A transparência governamental é um princípio ético vital para o salutar desenvolvimento da democracia. Uma sociedade só é verdadeiramente livre e democrática quando as instituições em que assenta tornam públicos todos os atos de governo; providenciam informação relevante de forma completa, fidedigna, atempada, facilmente compreensível e de fácil acesso e têm a capacidade de desvendar interesses privados que possam colidir com o interesse coletivo, permitindo deste modo a responsabilização de todos os atores, quer pelas decisões e ações tomadas ou omitidas, quer pelas razões que as informaram, perante a lei e o escrutínio dos cidadãos. Se estas boas práticas de transparência são uma base indispensável para a confiança dos cidadãos no poder político, mais importantes se tornam no que toca ao poder local, devido à sua particular proximidade com os cidadãos.
Nas últimas duas décadas os sucessivos governos têm procurado, por vezes em parcerias com as autarquias, melhorar a comunicação por parte da administração local e garantir o acesso à informação por parte dos cidadãos, através da introdução de novas tecnologias de informação e comunicação (TIC). Em resposta a esta preocupação criaram-se unidades de inovação e conhecimento e agências governamentais para a modernização da administração, responsáveis pelo fomento e acompanhamento da aplicação do conceito de governo digital em Portugal. Lançaram-se programas de financiamento para o desenvolvimento de portais (como o das regiões e cidades digitais) ou de infraestruturas, como a implementação de redes de fibra ótica ao nível municipal e intermunicipal. Elaboraram-se guias de boas práticas na construção dos portais internet das câmaras, em parceria com as melhores universidades do país e multiplicaram-se outras bem intencionadas iniciativas.
Não obstante todos estes esforços os cidadãos permanecem insatisfeitos com a transparência dos seus órgãos de governo a todos os níveis. Associado à falta de transparência persiste o receio de que o poder político e em particular o poder local têm servido para esbanjar os escassos recursos públicos de que dispomos e para o enriquecimento ou o bem-estar de poucos à custa do contributo e suor de muitos. Todos os dias, os cidadãos são confrontados com notícias de corrupção, má despesa pública e abuso de funções ao nível autárquico; e todos os dias recolhem-se ao silêncio cúmplice ou à indignação impotente, pela incapacidade da justiça fazer face, com celeridade e eficácia, a este tipo de práticas que têm um efeito devastador na legitimação das instâncias do poder local.
Foi em reposta a esta crescente preocupação pela saúde do poder local democrático que a Transparência e Integridade Associação Cívica (TIAC) decidiu agir sobre a questão da transparência autárquica. Organização da sociedade civil sem fins lucrativos que visa combater a corrupção, promovendo os valores da transparência, integridade e responsabilidade na opinião pública, nos cidadãos e nas instituições e empresas públicas e privadas, representante oficial da Transparency International no País, a TIAC decidiu desenvolver um projeto de avaliação do nível de transparência do poder local, através de uma análise de conteúdos da informação disponibilizada nos web sites das câmaras municipais. O resultado final desta análise será o desenvolvimento de um Índice de Transparência Municipal construído por 83 indicadores agrupados em sete dimensões, nomeadamente: Informação sobre a Organização, Composição Social e Funcionamento do Município; Planos e Relatórios; Impostos, Taxas, Tarifas, Preços e Regulamentos; Relação com a Sociedade; Contratação Pública; Transparência Económico-Financeira; Transparência na área do Urbanismo.
De acordo com Piotrowski (2007), a disseminação pró-ativa de informação por parte das autoridades governamentais, nomeadamente recorrendo às TIC, é uma das formas mais recorrentes destas tornarem transparentes o seu funcionamento, atividades e negócios, permitindo aos cidadãos escrutinar a boa utilização dos seus impostos, bem como permitir-lhes um maior acesso aos órgãos e responsáveis pelos processos de decisão. Este projeto tem como objetivo dar a conhecer o grau de transparência das câmaras municipais no que concerne a utilização das TIC, à luz das boas práticas internacionais. Pretende, mais do que isso, incentivar as autoridades locais a melhorarem as suas ferramentas de comunicação e interação com os cidadãos, com vista a uma governação cada vez mais aberta, responsável e participativa. O poder local não se pode reduzir à mera prestação de serviços de conveniência. O desenvolvimento económico e social e a coesão territorial dependem hoje desta abertura e capacidade de as autarquias criarem laços elementares de confiança com os cidadãos. É isso que se espera de um poder local democrático."
Este artigo foi originalmente publicado na revista O Municipal, da Associação dos Trabalhadores da Administração Local e encontra-se disponível online no blog "às claras" da TIAC.
Programa:
Lançamento do Índice de Transparência Municipal Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS – UL) | Auditório Sedas Nunes
10h30 | Sessão de Boas-vindas – Pedro Magalhães
10h40 | Apresentação do projecto – Luís de Sousa
10h50 | Apresentação dos resultados do projecto – Nuno Cruz
11h20 | Painel “O uso das TIC na governação local: realidades e desafios”
Moderador – João Paulo Batalha
Oradores convidados:
António Tavares, Universidade do Minho
Bárbara Rosa, Má Despesa Pública
Berta Nunes, Presidente da Câmara de Alfândega da Fé
Filipe Teles, Universidade de Aveiro
Gustavo Cardoso, ISCTE-IUL
Por falar em despesa pública: quanto dinheiro vai ser preciso para voltar a rechear as bibliotecas escolares? É que, com a nova ortografia, todo o investimento que se fez nas bibliotecas das escolas públicas, que, ao longo dos últimos quinze anos foi muito avultado, terá de se fazer novamente. TODOS os livros que estão nas bibliotecas das escolas terão de ir para o lixo. Esta e uma despesa justificada?
ResponderEliminarMuito prometedor este trabalho. A transparencia, avaliação e contraditório são os tres pés que podem ajudar a deixarmos este tradicional e ineficente estado de ser protugues. Vamos isso e divulgar .
ResponderEliminar