quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O que sabe da sua autarquia?


Hoje é apresentado publicamente o Índice de Transparência Municipal (ITM), coordenado pela TIAC- Transparência e Integridade, Associação Cívica, seguido de um debate sobre “O uso das TIC na governação local: realidades e desafios”, com a participação da co-autora deste blog, Bárbara Rosa (programa infra). Para melhor compreensão da natureza e importância do ITM, o Má Despesa partilha com os leitores o texto de Luís de Sousa, pres­i­dente da TIAC e de Vítor Teix­eira, inves­ti­gador prin­ci­pal do ITM:
"A transparên­cia gov­er­na­men­tal é um princí­pio ético vital para o salu­tar desen­volvi­mento da democ­ra­cia. Uma sociedade só é ver­dadeira­mente livre e democrática quando as insti­tu­ições em que assenta tor­nam públi­cos todos os atos de gov­erno; prov­i­den­ciam infor­mação rel­e­vante de forma com­pleta, fidedigna, atem­pada, facil­mente com­preen­sível e de fácil acesso e têm a capaci­dade de desven­dar inter­esses pri­va­dos que pos­sam col­idir com o inter­esse cole­tivo, per­mitindo deste modo a respon­s­abi­liza­ção de todos os atores, quer pelas decisões e ações tomadas ou omi­ti­das, quer pelas razões que as infor­maram, per­ante a lei e o escrutínio dos cidadãos. Se estas boas práti­cas de transparên­cia são uma base indis­pen­sável para a con­fi­ança dos cidadãos no poder político, mais impor­tantes se tor­nam no que toca ao poder local, dev­ido à sua par­tic­u­lar prox­im­i­dade com os cidadãos.
Nas últi­mas duas décadas os suces­sivos gov­er­nos têm procu­rado, por vezes em parce­rias com as autar­quias, mel­ho­rar a comu­ni­cação por parte da admin­is­tração local e garan­tir o acesso à infor­mação por parte dos cidadãos, através da intro­dução de novas tec­nolo­gias de infor­mação e comu­ni­cação (TIC). Em resposta a esta pre­ocu­pação criaram-se unidades de ino­vação e con­hec­i­mento e agên­cias gov­er­na­men­tais para a mod­ern­iza­ção da admin­is­tração, respon­sáveis pelo fomento e acom­pan­hamento da apli­cação do con­ceito de gov­erno dig­i­tal em Por­tu­gal. Lançaram-se pro­gra­mas de finan­cia­mento para o desen­volvi­mento de por­tais (como o das regiões e cidades dig­i­tais) ou de infraestru­turas, como a imple­men­tação de redes de fibra ótica ao nível munic­i­pal e inter­mu­nic­i­pal. Elaboraram-se guias de boas práti­cas na con­strução dos por­tais inter­net das câmaras, em parce­ria com as mel­hores uni­ver­si­dades do país e multiplicaram-se out­ras bem inten­cionadas iniciativas.
Não obstante todos estes esforços os cidadãos per­manecem insat­is­feitos com a transparên­cia dos seus órgãos de gov­erno a todos os níveis. Asso­ci­ado à falta de transparên­cia per­siste o receio de que o poder político e em par­tic­u­lar o poder local têm servido para esban­jar os escas­sos recur­sos públi­cos de que dis­po­mos e para o enriquec­i­mento ou o bem-estar de poucos à custa do con­trib­uto e suor de muitos. Todos os dias, os cidadãos são con­fronta­dos com notí­cias de cor­rupção, má despesa pública e abuso de funções ao nível autárquico; e todos os dias recolhem-se ao silên­cio cúm­plice ou à indig­nação impo­tente, pela inca­paci­dade da justiça fazer face, com celeri­dade e eficá­cia, a este tipo de práti­cas que têm um efeito dev­as­ta­dor na legit­i­mação das instân­cias do poder local.
Foi em reposta a esta cres­cente pre­ocu­pação pela saúde do poder local democrático que a Transparên­cia e Inte­gri­dade Asso­ci­ação Cívica (TIAC) decidiu agir sobre a questão da transparên­cia autárquica. Orga­ni­za­ção da sociedade civil sem fins lucra­tivos que visa com­bater a cor­rupção, pro­movendo os val­ores da transparên­cia, inte­gri­dade e respon­s­abil­i­dade na opinião pública, nos cidadãos e nas insti­tu­ições e empre­sas públi­cas e pri­vadas, rep­re­sen­tante ofi­cial da Trans­parency Inter­na­tional no País, a TIAC decidiu desen­volver um pro­jeto de avali­ação do nível de transparên­cia do poder local, através de uma análise de con­teú­dos da infor­mação disponi­bi­lizada nos web sites das câmaras munic­i­pais. O resul­tado final desta análise será o desen­volvi­mento de um Índice de Transparên­cia Munic­i­pal con­struído por 83 indi­cadores agru­pa­dos em sete dimen­sões, nomeada­mente: Infor­mação sobre a Orga­ni­za­ção, Com­posição Social e Fun­ciona­mento do Municí­pio; Planos e Relatórios; Impos­tos, Taxas, Tar­i­fas, Preços e Reg­u­la­men­tos; Relação com a Sociedade; Con­tratação Pública; Transparên­cia Económico-Financeira; Transparên­cia na área do Urbanismo.
De acordo com Piotrowski (2007), a dis­sem­i­nação pró-ativa de infor­mação por parte das autori­dades gov­er­na­men­tais, nomeada­mente recor­rendo às TIC, é uma das for­mas mais recor­rentes destas tornarem trans­par­entes o seu fun­ciona­mento, ativi­dades e negó­cios, per­mitindo aos cidadãos escruti­nar a boa uti­liza­ção dos seus impos­tos, bem como permitir-lhes um maior acesso aos órgãos e respon­sáveis pelos proces­sos de decisão. Este pro­jeto tem como obje­tivo dar a con­hecer o grau de transparên­cia das câmaras munic­i­pais no que con­cerne a uti­liza­ção das TIC, à luz das boas práti­cas inter­na­cionais. Pre­tende, mais do que isso, incen­ti­var as autori­dades locais a mel­ho­rarem as suas fer­ra­men­tas de comu­ni­cação e inter­ação com os cidadãos, com vista a uma gov­er­nação cada vez mais aberta, respon­sável e par­tic­i­pa­tiva. O poder local não se pode reduzir à mera prestação de serviços de con­veniên­cia. O desen­volvi­mento económico e social e a coesão ter­ri­to­r­ial depen­dem hoje desta aber­tura e capaci­dade de as autar­quias cri­arem laços ele­mentares de con­fi­ança com os cidadãos. É isso que se espera de um poder local democrático."
Este artigo foi orig­i­nal­mente pub­li­cado na revista O Munic­i­pal, da Asso­ci­ação dos Tra­bal­hadores da Admin­is­tração Local e encontra-se disponível online no blog "às claras" da TIAC.

Programa: 
Lançamento do Índice de Transparência Municipal 

Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS – UL) | Auditório Sedas Nunes 

10h30 | Sessão de Boas-vindas – Pedro Magalhães 
10h40 | Apresentação do projecto – Luís de Sousa 
10h50 | Apresentação dos resultados do projecto – Nuno Cruz 
11h20 | Painel “O uso das TIC na governação local: realidades e desafios” 
Moderador – João Paulo Batalha 
Oradores convidados: 
António Tavares, Universidade do Minho 
Bárbara Rosa, Má Despesa Pública 
Berta Nunes, Presidente da Câmara de Alfândega da Fé 
Filipe Teles, Universidade de Aveiro 

Gustavo Cardoso, ISCTE-IUL

2 comentários:

  1. Por falar em despesa pública: quanto dinheiro vai ser preciso para voltar a rechear as bibliotecas escolares? É que, com a nova ortografia, todo o investimento que se fez nas bibliotecas das escolas públicas, que, ao longo dos últimos quinze anos foi muito avultado, terá de se fazer novamente. TODOS os livros que estão nas bibliotecas das escolas terão de ir para o lixo. Esta e uma despesa justificada?

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  2. Muito prometedor este trabalho. A transparencia, avaliação e contraditório são os tres pés que podem ajudar a deixarmos este tradicional e ineficente estado de ser protugues. Vamos isso e divulgar .

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